sexta-feira, 24 de julho de 2009

A VIDA NOS ARROZAIS




Um capataz e uma aguadeira
Uma coca e uma lanheira
E uma criança ao fogão
Barris e uma coçaria
Ali é que a gente comia
O arroz cru com feijão

Com as calças a cavalo de estado
Andava tudo tapado
Para os bichos não picarem
Trazia-se um sorréco ou uma faca
De vez enquando muito à sucapa
Ouvia-se as milhãs a estalarem

O sorreco era proibido
Tinha que andar escondido
Para o capataz não ralhar
Ele é que não queria ver
Que a erva estava a crescer
E não se podia arrancar

Para as saias não arrojarem no chão
As moças faziam o balão
Se não andavam molhadas
Os aventais eram dobrados
Os chapéus eram enfeitados
Com rosinhas encarnadas

Tapavam a cara com burnel
Para proteger a pele
Punham polainas e mangos
Os mantulhos eram enterrados
E às vezes eram jogados
Com o nome de serongos

UMA GAIVOTA VOOU


Uma gaivota voou
Nem sequer para trás olhou
Quando atravessou o Tejo
Foi pousar numa canoa
Pôs-se a olhar p’ra Lisboa
Chorou pelo Alentejo

Teve que seguir em frente
Encontrou boa e má gente
Mentiu quando foi preciso
Dentro daquela cidade
Sozinha e com pouca idade
Mesmo assim teve juízo

Ouve alguém que lhe foi dizer
Terás muito que aprender
Num mundo que não é teu
Gaivota estás condenada
Voltaste a ser explorada
Foi sina que Deus te deu

Chegaste aqui sozinha
Hoje tens uma casinha
A onde nada deixaste
Gaivota quem te diria
Que vinhas a ter um dia
O ninho de onde voaste


quarta-feira, 15 de julho de 2009

OS INGLESES



Vieram os ingleses
Explorar os Portugueses
Um dia , um foi para a guerra
Foi mas tornou a voltar
Fartou-se de nos explorar
Na nossa própria terra

Um dia muito à socapa
Chegou cá uma polaca
Era a mulher do inglês
Não se podia aturar
Passava o tempo a ralhar
Com o povo Português

Dentro desses lamaceiros
Andávamos dias inteiros
E não éramos donos de nada
Dávamos suspiros e ais
Dentro desses arrozais
Que vida tão desgraçada

Trabalhávamos o ano inteiro
Nunca tínhamos dinheiro
Éramos uns coitados pobres
Também foram castigados
Com os brasões empenhados
Deixaram de ser snobes

Nesta grande companhia
Tanta miséria existia
Hoje a vida é diferente
Embora um pouco explorados
Mas já não somos espezinhados
Porque também somos gente

Meu Alentejo





Gosto muito do norte , mas enfim
Sempre que posso vou lá passear
Mas levo o Alentejo dentro de mim
Porque em mim têm sempre o seu lugar

Dizem que é província sem beleza
Quem diz talvez não saiba apreciar
Tem tantas coisinhas , a natureza
Que toda a gente aqui vem parar

É um povo parado é bem verdade
No alentejo o clima é diferente
Mas são pessoas humildes e sem maldade
São enganadas constantemente

No tempo dos Mouros já se sabia
Viviam nos castelos escondidos
Deixaram seus costumes sua poesia
Hoje é cantada em grupo muito unidos